O PÃO DA ELISABETE
Esta semana, que foi marcada pelo apagão ibérico, fui até Trás-os-Montes conhecer o mundo da Elisabete.
Foi uma das minhas convidadas das Mulheres e o Pão, a edição Mulheres com Tomates do ano passado, e não deixou ninguém indiferente com a sua paixão e determinação.
É em Gimonde, uma bonita aldeia a 7 km de Bragança, que nasce o Pão de Gimonde, para mim, o Pão da Elisabete.
É das suas mãos que saem novas receitas de pães, da sua cabeça, novas formas de implementar processos, do seu coração, o desejo de continuar a fazer pão saudável e com o sabor tradicional.
A distinção Melhor Padeira do Mundo é o reconhecimento de mais de 30 anos de trabalho pela dignificação da profissão e pelo seu percurso e formação profissionais.
Não há muito que eu possa acrescentar ao que já se escreveu sobre à Elisabete mas foi um privilégio poder partilhar algum tempo do seu dia a dia e perceber que é uma inquieta por conhecimento e que desde que definiu como missão “tirar o pão de Gimonde da paróquia “ o conseguiu levar ao Mundo!
A minha paixão pelo pão levou-me a fazer algumas formações com o Mário Rolando, o Diogo Amorim, o Paulo Sebastião e algumas cadeiras do mestrado de gastronomia molecular orientado pela querida Paulina Mata e foram estas noções elementares que me ajudaram a perceber também o processo de fazer o pão em Gimonde. Matérias primas, temperaturas, tempo e técnica.
Eram cerca de 10 horas da noite quando a Elisabete me abriu as portas da sua padaria. Mal abriu a porta, e ainda com as luzes apagadas, senti o aroma a farinha, a pão e o calor dos fornos a lenha. Aquele conforto que nos faz sentir logo bem-vindos.
A padaria estava vazia, as luvas e panos secavam com o calor dos fornos, que nunca dormem, e que já aguardavam o turno das 23h. Elisabete explicou-me como não prescinde da qualidade das farinhas não refinadas com germe e toda a integridade nutricional, os fornecedores de proximidade que seleciona, a origem dos produtos transmontanos como o azeite e as nozes que usa no pão de sarraceno e nozes, as massas mãe que alimenta e a lenha do vizinho que alimenta os fornos. Fiquei ansiosa pelo dia seguinte.
Faltavam dez minutos para as oito da manhã e já pisava de novo a padaria. Fui recebida pela Bina, responsável de produção, e pelas restantes colaboradoras que já laboravam entre massas e farinha e um jovem que enfornava vários pães de centeio de Trás- os-Montes. Senti-me uma criança na Disney. Tanta coisa para ver e aprender e ainda por cima sobre pão!
É um trabalho fisicamente exigente: tirar massas das amassadeiras, formar o pão, encher tabuleiros, movimentar carrinhos, colocar no forno, tirar do forno, embalar, toda uma coreografia que leva tempo, o tempo do pão. Aqui dentro é ele quem dita o ritmo.
O tempo passou e com o entusiasmo nem me apercebi que não tinha tomado o pequeno almoço. A Bina disse-me que não tinha muita coisa ali mas que tinha pão de centeio acabado de fazer e café. Desnecessário será dizer que nunca me vou esquecer desta experiência sensorial e das emoções que esta visita me despertou.
Obrigada Elisabete pelo teu tempo e pelo tempo que o teu pão me deu.